29 outubro 2006

SOLIDARIEDADE

*Em seguida, levaram alguns operários.
Mas não me importei com isso...
Eu também não era operário.*
*Depois, prenderam os miseráveis.
Mas não me importei com isso...
Porque eu não sou miserável.*
*Depois, levaram uns desempregados.
Mas como tenho meu emprego...
Também não me importei.*
*Agora, estão me levando...
Mas, já é tarde.*
*Como eu não me importei
com ninguém
Ninguém se importa comigo*
*Bertold Brecht*
*MORAL DA HISTÓRIA*
Diante das atribulações do dia a dia, do egocentrismo exagerado que se assoma inadvertidamente a cada um de nós, deixamos de partilhar, de conviver com as pessoas.
Pouco caso damos aos infortúnios que ocorrem com nossos semelhantes, vizinhos, companheiros de trabalho, amigos, família e fazemos vistas grossa aos problemas que vem afligindo a humanidade.
Nos quedamos, sem dar extensão aos factos, simplesmente porque os dissabores "ainda" não nos atingiram.
Por isso, não nos importamos com as situações de preconceitos, racismo, miséria, desemprego e tantos outros aspectos sociais que nos omitimos, esquecendo que fazemos parte desse contexto.
*Só nos damos conta de tais evidências no momento em que somos atingidos.*
Lembremos de lembrar do nosso semelhante, para não sermos esquecidos também.

25 outubro 2006

ODIARIO.INFO

Para quem dá valor, à verdadeira informação.....
"Somos um sítio web português, mas simultaneamente aberto ao mundo, consciente de que a concretização das aspirações sintetizadas no lema «outro mundo é possível» passará inevitavelmente pelo reforço do internacionalismo, um internacionalismo actuante, humanista e solidário. Essa opção é, alias, a do núcleo de colaboradores especiais que nos apoiam, quase todos intelectuais revolucionários e personalidades de prestígio internacional."
"O controle hegemónico exercido pelo imperialismo sobre o sistema mediático, neste tempo de informação instantânea e de difusão planetária, funciona como complemento dessa estratégia de loucura que tem o seu pólo mais proeminente em Washington. No tocante ao Médio Oriente, a deformação dos acontecimentos atingiu tal nível de perversidade que os audiovisuais e os grandes jornais do mundo capitalista trataram de apresentar o agressor, o Estado sionista de Israel, como vitima em luta desesperada pela sobrevivência, e as vitimas reais, os povos do Líbano e da Palestina, como actores de uma mirifica conspiração terrorista contra o Ocidente civilizado e democrático."

"É neste contexto de perfídia desinformativa que odiario.info surge e toma lugar na trincheira dos que procuram fazer da reflexão serena e lúcida a arma utilizada no combate em busca da verdade possível, e pela compreensão da tragédia que ameaça a humanidade para que ilumine os caminhos de saída desta crise."

http://www.odiario.info

18 outubro 2006

EXPOSIÇÃO AENVIADA AO BES

Todos os dias passam a nossa frente, e ao mesmo tempo no bolso, roubos legais, e que os frouxos deste País deixam andar, quando este pequeno, grande assunto se resume a isto....


Esta carta foi direccionada ao Banco BES, porém devido à criatividade com que foi redigida, deveria ser direccionada a todas as instituições financeiras.



Exmos. Senhores Administradores do BES

Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma pequena taxa mensal, pela existência da padaria na esquina da v/. Rua, ou pela existência do posto de gasolina ou da farmácia ou da tabacaria, ou de qualquer outro desses serviços indispensáveis ao nosso dia-a-dia.

Funcionaria desta forma: todos os meses os senhores e todos os usuários, pagariam uma pequena taxa para a manutenção dos serviços (padaria, farmácia, mecânico, tabacaria, frutaria, etc.).

Uma taxa que não garantiria nenhum direito extraordinário ao utilizador. Serviria apenas para enriquecer os proprietários sob a alegação de que serviria para manter um serviço de alta qualidade ou para amortizar investimentos.

Por qualquer produto adquirido (um pão, um remédio, uns litros de combustível, etc.) o usuário pagaria os preços de mercado ou, dependendo do produto, até ligeiramente acima do preço de mercado.

Que tal?

Pois, ontem saí do meu BES com a certeza que os senhores concordariam com tais taxas. Por uma questão de equidade e de honestidade. A minha certeza deriva de um raciocínio simples.

Vamos imaginar a seguinte situação: eu vou à padaria para comprar um pão.

O padeiro atende-me muito gentilmente, vende o pão e cobra o serviço de embrulhar ou ensacar o pão, assim como, todo e qualquer outro serviço.

Além disso, impõe-me taxas. Uma "taxa de acesso ao pão", outra "taxa por guardar pão quente" e ainda uma "taxa de abertura da padaria". Tudo com muita cordialidade e muito profissionalismo, claro.

Fazendo uma comparação que talvez os padeiros não concordem, foi o que ocorreu comigo no meu Banco.

Financiei um carro. Ou seja, comprei um produto do negócio bancário. Os senhores cobraram-me preços de mercado. Assim como o padeiro cobra-me o preço de mercado pelo pão.

Entretanto, de forma diferente do padeiro, os senhores não se satisfazem cobrando-me apenas pelo produto que adquiri.

Para ter acesso ao produto do v/. negócio, os senhores cobraram-me uma "taxa de abertura de crédito" - equivalente àquela hipotética "taxa de acesso ao pão", que os senhores certamente achariam um absurdo e se negariam apagar.

Não satisfeitos, para ter acesso ao pão, digo, ao financiamento, fui obrigado a abrir uma conta corrente no v/. Banco. Para que isso fosse possível, os senhores cobraram-me uma "taxa de abertura de conta".

Como só é possível fazer negócios com os senhores depois de abrir uma conta, essa "taxa de abertura de conta" se assemelharia a uma "taxa de abertura da padaria", pois, só é possível fazer negócios com o padeiro, depois de abrir a padaria.

Antigamente, os empréstimos bancários eram popularmente conhecidos como "Papagaios". Para gerir o "papagaio", alguns gerentes sem escrúpulos cobravam "por fora", o que era devido.

Fiquei com a impressão que o Banco resolveu antecipar-se aos gerentes sem escrúpulos.

Agora ao contrário de "por fora" temos muitos "por dentro".

Pedi um extracto da minha conta - um único extracto no mês - os senhores cobraram-me uma taxa de 1 EUR.

Olhando o extracto, descobri uma outra taxa de 5 EUR "para a manutenção da conta" - semelhante àquela "taxa pela existência da padaria na esquina da rua".

A surpresa não acabou: descobri outra taxa de 25 EUR a cada trimestre - uma taxa para manter um limite especial que não me dá nenhum direito.
Se eu utilizar o limite especial vou pagar os juros mais altos do mundo. Semelhante àquela "taxa por guardar o pão quente".

Mas, os senhores são insaciáveis.

A prestável funcionária que me atendeu, entregou-me um desdobrável onde sou informado que me cobrarão taxas por todo e qualquer movimento que eu fizer.

Cordialmente, retribuindo tanta gentileza, gostaria de alertar que os senhores se devem ter esquecido de cobrar o ar que respirei enquanto estive nas instalações do v/. Banco.

Por favor, esclareçam-me uma dúvida:

até agora não sei se comprei um financiamento ou se vendi a alma?

Depois que eu pagar as taxas correspondentes, talvez os senhores me respondam informando, muito cordial e profissionalmente, que um serviço bancário é muito diferente de uma padaria.

Que a v/. responsabilidade é muito grande, que existem inúmeras exigências legais, que os riscos do negócio são muito elevados, etc., etc., etc. e que apesar de lamentarem muito e nada poderem fazer, tudo o que estão a cobrar está devidamente coberto por lei, regulamentado e autorizado pelo Banco de Portugal.


Sei disso.


Como sei, também, que existem seguros e garantias legais que protegem o v/. negócio de todo e qualquer risco. Presumo que os riscos de uma padaria, que não conta com o poder de influência dos senhores, talvez sejam muito mais elevados.

Sei que são legais.

Mas, também sei que são imorais. Por mais que estejam protegidos pelas leis, tais taxas são uma imoralidade.
O cartel algum dia vai acabar e cá estaremos depois para cobrar da mesma forma.

Vitor Pinheiro

16 outubro 2006

TRATAR DA SAÚDE

Há já muitos anos, um senhor ministro da Saúde, cujo nome não lembramos, e também não lembramos o partido a que pertencia, dos que estoicamente governam o país há mais de 30 anos, resumindo um programa de reforma da saúde, faseada no tempo para a “dor” não ser súbita e mortal, disse para toda a gente ficar a saber: “quem quer saúde, paga-a”. Os governos seguintes, cada um com o seu estilo, esforçaram-se por cumprir o programa. O actual parece disposto a terminar a reforma.

O país ainda não foi informado qual o hospital, depois da privatização da saúde, que a reforma reservará aos indigentes. Há um em fase adiantada de construção para os lados do Colombo.

Os habitantes de uma determinada cidade do país não contratavam seguros de saúde. Os serviços hospitalares públicos dessa cidade ainda funcionavam bem.

Estudos e estudos, durante anos e anos, a dizerem que os cidadãos “entupiam” sem necessidade as urgências hospitalares, em vez de recorrerem aos serviços de urgência dos locais de residência. O actual ministro disse que não tem confiança nessas urgências. Não é necessária uma lei que puna os que enganam os portugueses, porque já só é enganado quem quer.

Os membros do governo, para darem credibilidade à reforma, quando necessitarem de recorrer às urgências, circulam por aí durante 45 minutos e depois esperam como os outros cidadãos, consoante a gravidade da maleita, até serem atendidos?

Uma senhora, já de muita idade, quando está doente, costuma dizer: valha-me Santo António. Que não se esqueça de, na próxima, pôr uma moedita na caixa das esmolas.

A receita neoliberal dita que todos temos as mesmas oportunidades. Dirija-se ao médico particular com a receita e será bem atendido.

Lembrando Brecht: se não existissem ministros que executam as chamadas reformas neoliberais, o milho cresceria de cima para baixo?

Em tempo de comprar as vacinas contra a gripe, as televisões esquecem as aves.

Quem recusar uma “maior esperança de vida”, pagando, claro, durante o tempo que por cá andar, uma pequena taxa moderadora para a assistência com um fim condigno, não é penalizado na reforma pela Segurança Social?

Para poupar dinheiro, não será possível fechar outras unidades de saúde e criar serviços móveis? Uma espécie de serviço humanitário. Também mandamos especialistas desta área para outros países em crise. E engenheiros. E também houve as bibliotecas itinerantes. Não é uma ideia assim tão despicienda.

O nível de vida dos portugueses melhorou muito em resultado da venda de medicamentos fora das farmácias. Valeu bem a pena toda aquela campanha de convencimento logo a seguir à posse do governo.

Se ainda não sentiu ganas de protestar, atenção à saúde, belisque-se. Há que continuar a viver. A vida é uma luta. Ou muitas lutas?

JDNS

15 outubro 2006

JOÃO PROENÇA - O SINDICALISTA


João Proença, o sindicalista que foi possuído pelo amor aos trabalhadores, vive eternamente alapado às saias do poder político. Nada o demove dessa superior monomania, que de tão graciosa e visionária o transformou no ungido do bric-a-brac governamental. João Proença, o sindicalista que congelou a ho(n)ra operária, ass(ass)ina tudo de cruz. Não precisa de ler, de sentir, de reflectir, de fazer contas. Abaliza tudo de rajada. Ontem, hoje e amanhã, eis João Proença, o sindicalista das lamentações sindicais. Aquele que não tem alma nem vida própria. Aquele que carrega sempre a caneta para os benignos acordos da "concertação social" e que, no fim, morre sempre, com gosto, às mãos dos seus putativos inimigos. Como um herói de um filme negro, o sindicalista da UGT, prenhe de glamour e um sorriso perpetuamente triunfal, sempre a despontar por debaixo da sua fornecida testa sindical, declara servir "a classe". Esforçadamente! Com zelo de antigo cliente. Daí o tamanho do sorriso conceptual que exibe. Os óculos espirituais que ostenta são, inteligentemente, para despistar o patronato. Há ali folgados exercícios venatórios. Tudo puro intelecto.
Sem estranheza alguma viu-se, o João, assinando "
acordos históricos", com o bom do eng. Guterres. Aqueles que garantiam a "sustentabilidade financeira da Segurança Social até ao final do século XXI". E Paulo Pedroso, a pensar no prefácio ao livro de René Passet, "Ilusão Neoliberal" (ed. Terramar), abonava, então, que era "uma reforma que visa melhor protecção social, com um futuro mais sólido, garantido nas condições económicas e sociais previsíveis pelo horizonte de um século e com uma situação positiva de pelo menos 40 anos". Os indígenas choraram de comoção. Desde os tempos imemoráveis em que o glorioso Benfica foi campeão europeu, nunca se tinha visto tamanha euforia.
Há poucos dias, agora com o compadre Sócrates pela mão, o mesmo João presenteou a canalha lusa com novos acordos de sustentabilidade da Segurança Social. Tudo envolto nas encomiásticas frases costumeiras. José Manuel Fernandes, intimo do poder, aplaudiu. Van Zeller marcou almoço no Tavares. E o próprio Medina Carreira pavoneou, imediatamente, dois papers curvados de números e forneceu um triste obituário ao jornal Público. A bravata do João, não poderia ser melhor. Que venha à próxima! Viva o sindicalismo!

Almocreve das Petas

A DECISÃO DE QUERER OU NÃO TER UM FILHO

Todos os países da União Europeia — salvo a Polónia, Malta, Irlanda e Portugal — têm leis que permitem as mulheres interromper uma gravidez não desejada. Está demonstrado que uma utilização dos métodos anticonceptivos diminui o número de abortos mas não o faz desaparecer, porque nenhum método anticonceptivo é infalível. Segundo estudos realizados nos finais dos anos 90 — no Reino Unido, Itália e Turquia -, as razões que levaram mais mulheres a interromper uma gravidez não desejada nesses países foram a prática incorrecta do coito interrompido, a ruptura de preservativos ou o uso incorrecto da pílula.
Também em Portugal é uma questão de responsabilidade social perceber (e ajudar a perceber) que as razões que levam uma mulher a abortar estão relacionadas com a saúde, com o bem-estar familiar e com a pobreza. Manter a criminalização do aborto é impedir as mulheres com menos recursos de decidir das suas vidas de modo a enfrentar situações de precariedade e discriminação. Para as mulheres com mais recursos é mais fácil passar a fronteira e abortar em Espanha, como aliás fazem as irlandesas em relação ao Reino Unido. Também nestes casos é o próprio país que deve garantir uma resposta médica, a única que pode ser universal e beneficiar de facto as mulheres.
A segurança dos abortos não se limita às intervenções médicas, está também relacionada com a exposição social, como o medo de julgamentos e de penas de prisão, tanto por parte das mulheres como dos profissionais que os realizam. A necessidade de despenalização é também uma questão de responsabilidade médica. Quando o aborto é ilegal a mulher tem poucos ou nenhuns recursos, mesmo que apresente lesões graves, para ser devidamente assistida. Ninguém questiona a capacidade e a ética deontológica da grande maioria dos médicos nos outros países da Europa, o que não os impede de praticar abortos quase diariamente, fazendo-o para garantir um bom serviço de saúde pública, uma prática médica adequada e uma boa qualidade assistencial.
Quando se estão a cumprir oito anos sobre o referendo à lei do aborto, a questão não perdeu actualidade, bem pelo contrário. Face a sucessivos e vergonhosos julgamentos pela alegada prática de aborto, ganha vulto a importância da apreciação e aprovação definitiva de uma nova lei descriminalização do aborto. Os defensores da actual legislação usam de hipocrisia em relação ao aborto e quando o debate desce à rua não hesitam na utilização de cruéis recursos mediáticos (chegam a ser veiculadas imagens com fetos em sofrimento) destinados a manipular e condicionar a opinião pública. Os seus argumentos invocam conceitos de moralidade, mas a batalha em que se empenham é política e não moral. A moralidade é uma questão pessoal e a despenalização nunca obrigaria a abortar, só permitiria fazer escolhas. Cabe às mulheres e a toda a sociedade portuguesa não deixar cair esta questão e continuar a lutar por uma nova lei do aborto mais justa para todas, reclamando modificações urgentes da lei em sede parlamentar.