Ontem, a Misericórdia da Mealhada reuniu em assembleia. A aprovação das contas de 2006, mas sobretudo a tomada de uma decisão relativa à situação do hospital da instituição, foram o mote para o encontro, que teve momentos de «discussão» mais acesa entre irmãos, e entre irmãos e dirigentes da Misericórdia. O que se estava em discussão era a tomada de uma decisão sobre o rumo a dar ao hospital. Tudo porque a instituição encontra-se numa situação de graves dificuldades financeiras, para fazer face aos custos de exploração daquela unidade – em funcionamento desde Agosto do ano passado – bem como ao empréstimo de 1,5 milhões de euros que contraiu para a edificação da obra. Os resultados, nesta matéria, têm sido negativos, e a Misericórdia diz não ter mais condições, nas actuais circunstâncias, de manter em funcionamento o hospital. João Peres, provedor da instituição, fez questão de lembrar que a Misericórdia se encontra nesta situação só porque a Administração Central fez protocolos que acabou por não cumprir. «A verdade é que foram assinados acordos, ainda no anterior Governo, mas que não foram cumpridos, e agora estamos nesta situação. Ficámos com ‘o menino nãos mãos’ e agora temos que resolver o problema», sintetizou o provedor, dando conta que a instituição «tudo tem feito para conseguir manter o hospital como um serviço social, mas o certo é que não temos conseguido encontrar uma solução». Isto para lembrar à assembleia que foi apresentada à Câmara Municipal uma missiva propondo quatro alternativas para apoio ao hospital, mas que foram chumbadas. Para João Peres, perante esta recusa, uma das alternativas que está em cima da mesa e que acabaria por ser aprovada - mediante algumas condições – é continuidade das negociação com a Caixa Geral de Depósitos (instituição junto da qual foram contraídos os empréstimos), que detém os Hospitais Privados de Portugal (HPP), para a cedência do hospital. Segundo as explicações dadas, a proposta que está a ser estudada passa pela instituição bancária assumir os empréstimos bancários que a Misericórdia contraiu e, ainda, obter uma renda mensal de exploração. Mas esta não foi a única proposta apresentada na assembleia. Muitas outras foram avançadas. A mais surpreendente partiu do próprio João Peres, ao revelar que a Misericórdia possui uma proposta de aquisição do mercado, dito municipal, da Mealhada, mas que é propriedade da instituição. E avançou mesmo o valor que é proposto para aquisição, na ordem dos 300 mil contos (em moeda antiga). Um valor que, segundo o provedor, «daria para conseguirmos equilibrar as despesas inerentes ao hospital nos próximos três anos, evitando a cedência do hospital a privados, mostrando-se confiante que, dentro de três anos, com os protocolos que entretanto estão a ser de novo negociados com a ARS, o hospital poderá vir a ter forma de auto-sustentar. A proposta apanhou todos de surpresa, inclusive o próprio Carlos Cabral (presidente da autarquia, mas que esteve presente na assembleia na qualidade de irmão e que entendeu não se pronunciar naquela reunião). Mas se Carlos Cabral não se pronunciou, Gonçalo Breda (vereador da autarquia, mas presente na qualidade de irmão da instituição) decidiu falar, considerando que as quatro propostas apresentadas à autarquia não eram praticáveis e padeciam de «falta de rigor», pelo que «não se pode dizer que a autarquia não é solidária ou não com a Misericórdia, só que o município não pode aprovar situações que não rigorosas ou que esbatem com a lei». Depois de muitas intervenções e sugestões, ao fim de mais de quatro horas de discussão, acabou por ser aprovada a decisão de autorizar a Misericórdia a reatar negociações com a Caixa Geral de Depósitos para a eventual cedência do hospital, mas também tentar uma nova abordagem com a autarquia, na tentativa de se evitar a cedência do hospital a privados. Todavia, ficou desde logo decidido que, antes de qualquer decisão, a assembleia reunirá para dar conta dos resultados destas «demarches».
António Jorge Pires
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